ARTROSCOPIA DO OMBRO *
TRATAMENTO DA TENDINOPATIA CALCÁREA POR VIA ARTROSCÓPICA
O primeiro passo para um eficaz tratamento da tendinopatia calcárea é correta identificação da localização exata dos depósitos de cálcio. Inicialmente é realizada a retirada da bursa quando esta se apresenta espessada e inflamada, até porque impede a visualização adequada de todo o tendão. Quando o acrômio estiver proeminente, aumentando a pressão sobre o tendão, também pode ser realizada uma remodelagem do acrômio para diminuir o atrito desta estrutura com o manguito rotador.
Uma vez realizada esta limpeza inicial, o tendão pode ser visualizado de forma completa e precisa. Além do uso de um intensificador de imagens (aparelho que gera imagens semelhantes a uma radiografia dinâmica em tempo real), na visão direta com o artroscópio o tendão se mostra inflamado e abaulado nestas regiões suspeitas, que são então investigadas com uma agulha fina para confirmar a identificação da massa de cálcio. Toda essa estrutura estranha é então ressecada e raspada com um equipamento chamado shaver, que raspa e aspira esse conteúdo ao mesmo tempo.
Após a ressecção do depósito de cálcio, frequentemente nos deparamos com um defeito significativo no tendão. Para que não deixemos o tendão fragilizado neste ponto, o ideal é que se realize um reforço do tendão neste ponto. Dependendo do tamanho e localização, isso pode ser feito apenas com fios de sutura ou com fixados novamente no seu local de origem com a utilização de âncoras.
PÓS-OPERATÓRIO
Pós-operatório imediato:
Após a cirurgia, o paciente retorna para o quarto, e na maioria das vezes, liberamos o paciente para casa ainda no mesmo dia da cirurgia após um check up de seu estado clínico. Eventualmente o paciente dorme uma noite no hospital, seja por alguma necessidade clínica ou mesmo por preferência pessoal. Muito raramente a internação se estende além deste prazo.
Alta hospitalar e retorno ao consultório para acompanhamento
No momento da alta, são prescritos analgésicos e orientações gerais para um pós-operatório mais confortável. É natural que o paciente sinta algum desconforto no local da cirurgia, mas se as orientações e medicações forem seguidas corretamente, o manejo da dor pós-operatória não será um problema. O paciente retorna ao consultório na semana seguinte após a cirurgia, para troca de curativo. Os pontos costuma ser retirados por volta de 2 semanas.
Reabilitação pós-operatória
Com relação às atividades e reabilitação do ombro operado, dividimos o pós-operatório em 3 fases:
Fase 1 (até 1 mês pós cirurgia) – O pós-operatório inicial irá depender do defeito tendinoso após a ressecção do depósito de cálcio. Se for necessário um reparo tendinoso, o paciente deverá manter o braço de repouso durante este período. Recomendamos o uso de uma tipóia na maior parte do tempo, mas se o membro estiver de repouso sobre um apoio, a tipoia pode ser retirada durante alguns períodos do dia. Pode-se usar o membro para atividades cotidianas leves que não movimentem o ombro e de forma cuidadosa, como digitação e alimentação. De acordo com a situação, podem ser iniciados exercícios bem simples para que o paciente faça em casa diariamente. Nos casos em que o defeito tendinoso for mínimo, o pós-operatório é mais flexível, sem a necessidade de uma imobilização formal, com uso da tipoia conforme o conforto.
Fase 2 (após a fase 1, até completar 3 meses de cirurgia) – O braço já é liberado para a maioria das atividades cotidianas sem peso, esforço ou movimentos bruscos. Sugerimos o uso da tipoia de forma seletiva, apenas em ambientes com riscos de traumas. Em ambientes controlados, não há necessidade de uso da tipoia. São realizados exercícios e fisioterapia para recuperação de mobilidade e força, de forma cuidadosa e progressiva.
Fase 3 (após 3 meses de cirurgia) – O paciente progride no processo de fortalecimento e finalização dos últimos graus de movimento. Gradualmente vai retornando a suas atividades profissionais e esportivas. Esportes de impacto ou com movimentos bruscos do ombro devem ser evitados por cerca de 6 meses após a cirurgia.
RESULTADOS
Os resultados do tratamento cirúrgico da tendinopatia calcárea são muito satisfatórios e é esperado que o paciente retorne a suas atividades plenas sem restrição num médio de 4 a 6 meses. É possível que o paciente permaneça com algum resquício nas imagens pós-operatórias, que naturalmente devem ser muito menores do que os depósitos originais. Isso pode ocorrer quando o cirurgião quer evitar uma raspagem excessiva que comprometa a resistência do tendão e não compromete o resultado, pois estes pequenos e eventuais resquícios são naturalmente reabsorvidos pelo nosso organismo. Recidivas são muito raras, mas o acometimento no ombro do outro lado não é incomum.
Complicações são raras neste tipo de cirurgia. Todavia, existem riscos inerentes de qualquer procedimento cirúrgico, como: infecção do sítio da cirurgia, falha na ressecção completa, falha na cicatrização, complicações anestésicas, etc. Para saber detalhadamente todas as possíveis complicações cirúrgicas converse com seu médico antes do procedimento.