A artrose é uma doença em que ocorre o desgaste da cartilagem, deformidade da superfície articular e formação de osteófitos (esporões) ao redor da articulação.   Nem todas as artroses se comportam exatamente da mesma forma e o tipo de acometimento é o que vai definir a melhor forma de tratamento. Este vai depender da gravidade do comprometimento da cartilagem articular, presença e tamanho dos osteófitos e perfil do paciente (especialmente sua idade e atividade). Quando a presença dos osteófitos é a principal alteração, o desbridamento artroscópico é uma ótima indicação. Por outro lado, quando a cartilagem está demasiadamente danificada, especialmente em associação com deformidades severas da superfície articular, a substituição por uma prótese oferece resultados mais previsíveis.

FIGURA: Ilustração mostrando a superfície articular normal (N) e danificada (D).

O QUE É A ARTROSE?

A artrose é uma doença em que ocorre comprometimento da integridade da cartilagem articular, presença de deformidades ósseas na articulação e formação de esporões ósseos, chamados de osteófitos.

COMO OCORRE A ARTROSE DO COTOVELO E QUEM ESTÁ MAIS SUSCETÍVEL A ESTE PROBLEMA?

Na artrose primária, esse quadro ocorre como resultado apenas do desgaste natural da cartilagem articular à medida que envelhecemos. Também pode ocorrer devido a uma lesão prévia, como uma fratura articular, ou ser decorrente de microtraumas de repetição em atletas de alta demanda ou trabalhadores que fazem grandes esforços constantemente. Uma outra causa para o desgaste da articulação é o acometimento por doenças inflamatórias, como a artrite reumatóide por exemplo, quando as células do nosso próprio organismo contribuem para a destruição dos tecidos de forma equivocada. A artrose costuma ser mais grave e sintomática nas articulações que suportam peso, como o quadril e o joelho. No entanto, também pode acometer o cotovelo e causar significativas limitações funcionais.

No cotovelo, existem dois perfis bem distintos de pacientes com artrose e isso é importante pois as opções de tratamento são diferentes. O grande diferencial entre os dois grupos é o grau de desgaste da cartilagem articular.

A artrose do cotovelo pode acometer pacientes jovens, muito ativos e com atividades de alta demanda para os membros superiores. O perfil mais frequente que encontramos em nossa prática são de atletas de alta demanda, especialmente com esportes relacionados às artes marciais. A sobrecarga também pode estar relacionada às atividades laborais, como em alguns trabalhadores braçais. Neste tipo de artrose, o desgaste da cartilagem não costuma ser tão avançado. Por outro lado, habitualmente encontramos uma grande quantidade de osteófitos bloqueando o movimento e causando dor.

Um outro perfil bastante distinto se assemelha mais com os pacientes típicos de artrose em outras articulações, ou seja, um paciente mais idoso e não necessariamente de alta demanda. Um desgaste mais avançado da superfície articular também pode ocorrer em pacientes mais jovens com algum tipo de doença inflamatória sistêmica. Nestes casos, o desgaste cartilaginoso e a deformidade da superfície articular costumam ser as principais alterações.

QUAIS SÃO OS SINTOMAS E SINAIS MAIS COMUNS?

Nos pacientes mais jovens e com elevada demanda física / esportiva, normalmente ocorre abundante formação de osteófitos (esporões ósseos) e corpos livres (pedaços de cartilagem e osso soltos na articulação) que bloqueiam o movimento e causam inflamação, gerando dor. Com a perda gradual de movimento, a cápsula articular também vai ficando espessada e passa a contribuir para a restrição da mobilidade. O processo vai piorando de forma gradual e progressiva, até chegar num ponto de causar grande impacto na função e limitar as atividades do paciente. Essas alterações provavelmente são causadas por uma repetição de microtraumas, gerando lesões de cartilagem e inflamação. Por outro lado, a espessura da cartilagem normalmente não está muito comprometida.

Já no perfil de paciente mais idosos ou com doenças inflamatórias, o desgaste é mais da superfície articular, que está comprometida e danificada. As irregularidades das superfícies articulares geram dor e inflamação, dificultando o movimento. Existe também a presença de osteófitos, mas normalmente não tão exuberantes quanto na artrose do paciente jovem. O bloqueio de movimento é mais pela dor e falta de cartilagem do que pelos osteófitos. As causas para este tipo de artrose normalmente são distintas do outro perfil. Podem ter origem genética, degeneração com a idade, doenças inflamatórias (como artrite reumatóide, por exemplo) ou como sequela após uma fratura articular ou infecção.

 

QUAIS EXAMES PODEM AJUDAR?

As radiografias do cotovelo nas incidências AP e Perfil fazem parte da avaliação inicial básica de um paciente com suspeita de artrose. São importantes para dar uma visão geral da articulação como um todo, assim como eventuais desvios de alinhamento ou sinais de problemas prévios.

FIGURA: Radiografia em AP e Perfil do cotovelo sem artrose.
FIGURA: Radiografia em AP e Perfil do cotovelo com artrose.
FIGURA: Radiografia em AP e Perfil do cotovelo com artrite reumatóide avançada.

A tomografia computadorizada é o exame mais importante na avaliação do paciente com artrose do cotovelo, já que através deste exame conseguimos avaliar em detalhes a superfície articular, presença de deformidades e osteófitos. O ideal é que o exame seja realizado com cortes finos (≦ 1mm) para permitir uma análise detalhada. As reconstruções em 2D (sagital e coronal realizadas no plano correto) e 3D são imprescindíveis para avaliação do comprometimento articular e planejamento cirúrgico.

Atualmente as impressões em 3D também são um instrumento muito útil para o planejamento cirúrgico, quando disponíveis.

A ressonância magnética não é imprescindível na artrose do cotovelo, já que normalmente não interfere na indicação terapêutica ou estabelecimento do prognóstico.

QUAL O MELHOR TRATAMENTO PARA O MEU CASO?

O tratamento varia basicamente de acordo com o grau do comprometimento da superfície articular. Nas artroses leves, medidas sintomáticas como analgésicos e compressas locais podem ser suficientes para um alívio temporário. Com o mesmo objetivo, infiltrações com ácido hialurônico podem ser indicadas como uma medida provisória.

Quando a artrose já não está em estágio inicial, mas a cartilagem articular está relativamente preservada, o desbridamento artroscópico normalmente apresenta uma ótima resposta. Neste tipo de procedimento, realizamos a retirada dos osteófitos e soltamos a cápsula presa para retirar o bloqueio de movimento. Também são retirados os corpos livres e sinovite que inflamam a articulação. Esse perfil de paciente costuma ter maior tolerância à dor, o que faz com que só procurem ajuda médica quando os osteófitos encontram-se surpreendentemente exuberantes.

Mesmo sem a mesma previsibilidade do que o perfil descrito acima, nas doenças inflamatórias em pacientes jovens, em que existe comprometimento da cartilagem, mas também muita inflamação causada por sinovite, a artroscopia também pode ser uma boa opção. Nessa situação, a retirada do tecido inflamado através da sinovectomia, pode gerar um alívio importante dos sintomas, que apesar de geralmente temporário, pode adiar uma prótese por um período significativo.

Nos pacientes com grande desgaste da cartilagem e deformidades da superfície articular, a artroscopia não é tão previsível, pois neste procedimento não conseguimos restabelecer a cartilagem danificada. Nessa situação, o melhor tratamento é a artroplastia total do cotovelo, que apresenta ótimos resultados funcionais, mas em geral não é recomendada para os pacientes jovens e ativos pelo risco de falha e soltura.

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