O tendão da cabeça longa do bíceps (TCLB) se origina dentro do ombro e se junta com a cabeça curta para formar o músculo bíceps braquial. O TCLB pode ficar inflamado, instável ou romper-se parcialmente, o que provoca dor na região da frente do ombro. Isso pode ocorrer de forma isolada ou em conjunto com uma lesão do manguito rotador, que são outros tendões internos  do ombro. Quando a lesão for isolada, normalmente iniciamos o tratamento de forma conservadora, mas se este não for bem sucedido, uma artroscopia é uma ótima solução definitiva. Quando o tendão se rompe completamente, tende a se retrair e formar uma deformidade no braço chamada de sinal do Popeye. Normalmente não existe dor crônica ou déficit funcional, mas o reparo pode estar indicado em pacientes muito ativos e também se houver desconforto com a deformidade no braço.

O TENDÃO DA CABEÇA LONGA DO BÍCEPS

Os tendões têm a função de conectar os músculos aos ossos, transmitindo a força gerada pela contração muscular e que resultará em movimento articular. O músculo bíceps braquial, mais conhecido simplesmente como bíceps, tem dois tendões na sua origem superior. Aliás, uma curiosidade interessante é que este fato foi justamente o que deu origem ao seu nome, já que bíceps deriva das palavras em latim bi (dois) + ceps (cabeças), ou seja, um músculo com duas origens ou duas cabeças. A cabeça longa do bíceps se insere dentro da articulação do ombro, num tecido fibroso chamado labrum, que se localiza na parte superior da glenóide. A outra origem deste músculo é a cabeça curta do bíceps, que se encontra na ponta do processo coracóide.

COMO OCORREM AS LESÕES DO TCLB E QUEM ESTÁ MAIS SUSCETÍVEL?

O tendão da cabeça longa do bíceps (TCLB) passa por um sulco apertado no úmero é coberto por um ligamento. Movimentos repetitivos e / ou sobrecarga no ombro  podem levar a uma inflamação do TCLB, tanto em atividades cotidianas quanto na prática esportiva.  Quando essa inflamações se tornam persistentes, vão tornando o tendão mais espessado e fibrosado, o que aumenta ainda mais seu atrito dentro do túnel estreito em que passa. Além disso, com o tempo vai ocorrendo um comprometimento da estrutura do tendão, que vai ficando degenerado e mais frágil. Quando este processo persiste, o tendão pode se romper.

As rupturas do tendão do bíceps podem ser parciais ou completas. Em muitos casos, os tendões rompidos começam por se desgastar. À medida que o dano progride, o tendão pode rasgar completamente, às vezes ao levantar um objeto pesado.

Nas lesões parciais ocorre um desgaste do tecido, mas sem perda de sua continuidade. Nestes casos, o principal sintoma é a dor na região da frente do ombro.  Nas rupturas parciais a indicação inicial é pelo tratamento conservador, que normalmente envolve repouso, medicação anti-inflamatória e fisioterapia. A indicação cirúrgica ocorre no caso de uma dor persistente apesar do tratamento conservador.

Na ruptura completa, o tendão se dividirá em duas partes. A parte de baixo do tendão é puxada pela musculatura e retrai, gerando uma deformidade na região anterior do braço, que chamamos de sinal do Popeye. Se você romper o tendão do bíceps no ombro, pode perder um pouco de força no braço e sentir dor ao girar o antebraço para que a palma da mão fique voltada para cima (movimento chamado de supinação).

Outra situação que pode ocorrer com o TCLB é uma subluxação, ou seja, quando ele sai de seu trajeto habitual. É comum que isto ocorra em conjunto com uma lesão do tendão subescapular, que faz parte do manguito rotador. A subluxação do TCLB, assim como a lesão do subescapular costumam ser bastante dolorosos, comprometendo a função do ombro.

Um outro mecanismo de inflamação e lesão do TCLB é quando existe uma lesão do manguito rotador. Nestes casos, a cabeça umeral é desviada para cima,  aumentando a tensão no TCLB e gerando também atrito com o acrômio superiormente.

QUAIS SÃO OS SINTOMAS E SINAIS MAIS COMUNS?

Nas tendinopatias, lesões parciais e instabilidade do TCLB, o principal sintoma é a dor na região da frente do ombro. A dor normalmente piora após atividades repetitivas, especialmente com elevação do ombro. No entanto, quando o tendão está inflamado, a dor pode permanecer mesmo em repouso. Quando o tendão está instável, o paciente pode referir a sensação de que sente algo pulando ou saindo do lugar de forma intermitente. No exame físico, ortopedista normalmente identifica um ponto sensível e doloroso na frente do ombro.

Já na lesão completa isolada do TCLB, o que chama mais atenção é uma deformidade na região da frente do braço, chamada de ‘bíceps de Popeye’, que é causada pela retração do ventre muscular do bíceps. Esta deformidade  normalmente permanece e pode ser motivo de grande insatisfação estética. Os sintomas iniciais de dor e inflamação tendem a desaparecer com o tempo, mas eventualmente os pacientes podem se queixar de dor persistente e câimbra na região do bíceps.  Dessa forma, o tratamento cirúrgico das lesões do TCLB tem indicação relativa e a decisão deve ser individualizada de acordo com cada indivíduo.

QUAIS EXAMES PODEM AJUDAR?

Nas tendinopatias inflamatórias, lesões parciais e instabilidade do TCLB; a ressonância magnética auxilia na identificação da patologia deste tendão, assim como das lesões associadas. A  ultrassonografia pode ser utilizada na indisponibilidade da ressonância magnética, mas tem a desvantagem de ser examinador dependente.

Quando o tendão se rompe completamente e retrai, o diagnóstico clínico é bastante evidente. Ainda assim, é ideal dispor de um exame que identifique os outros tendões do ombro, já que é muito comum a associação com as lesões do manguito rotador.

QUAL O MELHOR TRATAMENTO PARA O MEU CASO?

Na opção pelo tratamento conservador, recomenda-se um período de repouso, medicação anti-inflamatória e fisioterapia. Após algumas semanas o paciente já pode retornar para sua atividades habituais.

O tratamento cirúrgico acaba sendo muito mais frequente nas situações de lesão parcial e subluxação do TCLB, pois são situações em que o paciente convive com quadro de dor persistente, mesmo após o tratamento conservador. O tratamento cirúrgico normalmente é iniciado com artroscopia para desbridamento do tendão. Depois, o mesmo é fixado no úmero pela própria artroscopia ou por um pequeno acesso no braço. Existem várias formas de fixação, incluindo suturas, túneis ósseos, âncoras e botões metálicos. A escolha do método irá depender da experiência e preferência individual de cada cirurgião.

O tratamento cirúrgico das lesões completas do TCLB tem indicação relativa e muitas vezes tem motivação mais estética do que funcional. De qualquer forma, é uma cirurgia relativamente simples e com ótimos resultados. A decisão deve ser individualizada de acordo com as necessidades e preferências de cada indivíduo.

PROCEDIMENTOS

  • Tenodese do TCLB *